Gostaria de vos dizer algumas palavras de maneira mais espontânea.
Ir missionar, sair para missionar, ou seja, a dimensão missionária que mencionaste no teu discurso. Fiquei impressionado com uma frase que disseste: deixar as zonas de conforto e sair para missionar . Pergunto-me quais são as zonas de conforto de uma congregação, de uma província, de uma comunidade, de cada um de nós? Fazei-vos esta pergunta, porque se dizia que cada um ajusta os seus votos como quer. E assim pode praticar a pobreza com conta bancária, pode praticar a castidade com companhia, pode praticar a obediência dialogando e decidindo como deseja. São formas deveras deformadas. Mas o que produz sempre uma deformação nos três votos é o conforto. É por ali que entra o mal, porque procuramos acomodar-nos, estar confortáveis, levar uma vida de burguesia, sem sair para missionar, missionar, missionar. Cada um analise qual é a sua tentação de conforto. Todos nós temos esta tentação, todos nós temos esta tentação!
Há pouco, por exemplo, quando me disseram: “Ali há muitos sacerdotes aos quais deves ir falar”, pensei, “ah, que chatice, quero comer”. Conforto, não é verdade? (risos). Ou seja, todos nós temos a tentação do conforto, mas cada um tem-na com nome e sobrenome próprios. Procurai a raiz do conforto de cada um de vós, e isto ajudar-vos-á a desapegar-vos e a olhar para o horizonte da missão. Um Redentorista sem este horizonte de missão não tem sentido, mesmo que tenha de se sentar a uma escrivaninha toda a sua vida. O horizonte da missão. E, para isso, é necessária a capacidade de sair da sua zona de conforto. Por isso, sugiro-vos que, como fruto deste Capítulo, na oração que recitareis durante estes dias, cada um se interrogue: “Ao que estou apegado? Qual é o meu conforto, o que não me deixa ser livre, não me deixa voar?”. Procurai responder a estas perguntas.
O segundo elemento que carateriza os Redentoristas é que são mestres de moral, e estou-vos grato por isso. Acima de tudo, quero agradecer ao “Alfonsianum”, aqui em Roma. Penso que o reitor está aqui… não está aqui. Transmite-lhe os meus cumprimentos, pois eu queria dizer-lhe que está a trabalhar muito bem, muito bem. Prestai um serviço a uma teologia moral, madura, séria, católica. E a um nível impressionante, um nível académico muito elevado. Portanto, agradeço-te, como Padre-Geral, que este Instituto continue a ajudar a Igreja. Mestres de moral, mas mestres de moral também no catecismo das crianças, nos confessionários…
Que as pessoas compreendam o que é bom e o que é mau, e que depois saibam que a misericórdia de Deus cobre tudo; mas que saibam o que é bom e o que é mau, porque uma coisa é a misericórdia de Deus, e outra é o “manganchismo”. Ser de mãos-largas significa dizer “tudo é válido”… sem distinguir, sem ter uma cultura moral, que é tão importante, sem reducionismo. Hoje, com muita tristeza, devemos dizer que há mandamentos que não se cumprem, não se cumprem, diante das injustiças sociais que existem. Um exemplo: pessoas que esbanjam o seu dinheiro em viagens, turismo, festas, restaurantes de luxo; e pessoas que não têm sequer um pedaço de pão para comer. Além disso, nisto há uma imoralidade de pensamento. O oitavo mandamento, quem o observa hoje em dia? Atualmente, se alguém pode armar uma cilada ao outro, tirar-lhe o que lhe é devido, pagar-lhe menos… salários justos, há cada vez menos. Como há falta de trabalho! As pessoas aceitam o que lhes dão. Ou seja, vai-se contra a justiça, contra a verdade. Por favor, ensinai ali uma moral forte, continuai! Carregai a consciência. Pois bem, todos os mandamentos. Em que consiste, por exemplo, a idolatria? “Não, não adoro ídolo algum”. Estás cheio de ídolos, mas ensinai: “Isto é idolatria”.
Digo-vos que continueis assim porque o fazeis, e muito bem, mas não vos esqueçais que sois formadores de consciência. Quero chegar aqui: formadores de consciência moral. E este é um carisma que tendes, que herdastes do fundador, que se dedicou também a estas coisas, entre outras.
Agradeço-vos o que fazeis pela Igreja, realmente! Agradeço-vos do fundo da minha alma. Agradeço-te os teus treze anos aqui. Sobreviver em Roma não é fácil! E tu, quando tiveres um pouco de dificuldade, bebe um pouco de cachaça para elevar o espírito (risos).
Agora quero conceder-vos a Bênção. Bênção…
(Após a Bênção, o Papa acrescentou estas palavras):
“E não vos esqueçais de pensar: qual é a minha zona de conforto?”.