CONVERSA PARTICULAR

Papa Francisco falou de improviso com os Redentoristas no dia do encontro formal

Gostaria de vos dizer algumas palavras de maneira mais espontânea.

Ir missionar, sair para missionar, ou seja, a dimensão missionária que mencionaste no teu discurso. Fiquei impressionado com uma frase que disseste: deixar as zonas de conforto  e sair para missionar . Pergunto-me quais são as zonas de conforto de uma congregação, de uma província, de uma comunidade, de cada um de nós? Fazei-vos esta pergunta, porque se dizia que cada um ajusta os seus votos como quer. E assim pode praticar a pobreza com conta bancária, pode praticar a castidade com companhia, pode praticar a obediência dialogando e decidindo como deseja. São formas deveras deformadas. Mas o que produz sempre uma deformação nos três votos é o conforto. É por ali que entra o mal, porque procuramos acomodar-nos, estar confortáveis, levar uma vida de burguesia, sem sair para missionar, missionar, missionar. Cada um analise qual é a sua tentação de conforto. Todos nós temos esta tentação, todos nós temos esta tentação!

Há pouco, por exemplo, quando me disseram: “Ali há muitos sacerdotes aos quais deves ir falar”, pensei, “ah, que chatice, quero comer”. Conforto, não é verdade?  (risos). Ou seja, todos nós temos a tentação do conforto, mas cada um tem-na com nome e sobrenome próprios. Procurai a raiz do conforto de cada um de vós, e isto ajudar-vos-á a desapegar-vos e a olhar para o horizonte da missão. Um Redentorista sem este horizonte de missão não tem sentido, mesmo que tenha de se sentar a uma escrivaninha toda a sua vida. O horizonte da missão. E, para isso, é necessária a capacidade de sair da sua zona de conforto. Por isso, sugiro-vos que, como fruto deste Capítulo, na oração que recitareis durante estes dias, cada um se interrogue: “Ao que estou apegado? Qual é o meu conforto, o que não me deixa ser livre, não me deixa voar?”. Procurai responder a estas perguntas.

O segundo elemento que carateriza os Redentoristas é que são mestres de moral, e estou-vos grato por isso. Acima de tudo, quero agradecer ao “Alfonsianum”, aqui em Roma. Penso que o reitor está aqui… não está aqui. Transmite-lhe os meus cumprimentos, pois eu queria dizer-lhe que está a trabalhar muito bem, muito bem. Prestai um serviço a uma teologia moral, madura, séria, católica. E a um nível impressionante, um nível académico muito elevado. Portanto, agradeço-te, como Padre-Geral, que este Instituto continue a ajudar a Igreja. Mestres de moral, mas mestres de moral também no catecismo das crianças, nos confessionários…

Que as pessoas compreendam o que é bom e o que é mau, e que depois saibam que a misericórdia de Deus cobre tudo; mas que saibam o que é bom e o que é mau, porque uma coisa é a misericórdia de Deus, e outra é o “manganchismo”. Ser de mãos-largas significa dizer “tudo é válido”… sem distinguir, sem ter uma cultura moral, que é tão importante, sem reducionismo. Hoje, com muita tristeza, devemos dizer que há mandamentos que não se cumprem, não se cumprem, diante das injustiças sociais que existem. Um exemplo: pessoas que esbanjam o seu dinheiro em viagens, turismo, festas, restaurantes de luxo; e pessoas que não têm sequer um pedaço de pão para comer. Além disso, nisto há uma imoralidade de pensamento. O oitavo mandamento, quem o observa hoje em dia? Atualmente, se alguém pode armar uma cilada ao outro, tirar-lhe o que lhe é devido, pagar-lhe menos… salários justos, há cada vez menos. Como há falta de trabalho! As pessoas aceitam o que lhes dão. Ou seja, vai-se contra a justiça, contra a verdade. Por favor, ensinai ali uma moral forte, continuai! Carregai a consciência. Pois bem, todos os mandamentos. Em que consiste, por exemplo, a idolatria? “Não, não adoro ídolo algum”. Estás cheio de ídolos, mas ensinai: “Isto é idolatria”.

Digo-vos que continueis assim porque o fazeis, e muito bem, mas não vos esqueçais que sois formadores de consciência. Quero chegar aqui: formadores de consciência moral. E este é um carisma que tendes, que herdastes do fundador, que se dedicou também a estas coisas, entre outras.

Agradeço-vos o que fazeis pela Igreja, realmente! Agradeço-vos do fundo da minha alma. Agradeço-te os teus treze anos aqui. Sobreviver em Roma não é fácil! E tu, quando tiveres um pouco de dificuldade, bebe um pouco de cachaça para elevar o espírito (risos).

Agora quero conceder-vos a Bênção.  Bênção…

(Após a Bênção, o Papa acrescentou estas palavras):

“E não vos esqueçais de pensar: qual é a minha zona de conforto?”.

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